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quinta-feira, 6 de abril de 2017

Unity e dependência de “decisões proprietárias”

Ciclos de interesse pelo Knoppix, Kurumin, Ubuntu e Linux Mint, até o final de 2016

Usuário renitente do KDE, — desde os primeiros passos no Linux, à época do digno encerramento do Kurumin, — o anúncio oficial de que a Canonical vai abortar seu investimento no Unity8 parece não me fazer mossa.

Mas é um alerta para intensificar as experiências fora do universo “Ubuntu & derivados”.

Em boa hora, desde o início de 2017 já vinha experimentando pelo menos uma distro de cada um dos outros “troncos” Linux principais, — romper, enfim, o antigo “confinamento”, — e várias se mostram boas alternativas. Há esperança de que algumas se tornem 100% produtivas, nos limites do meu hardware e dos meus conhecimentos (que, desse modo, tento ampliar).

  • Ubuntu*
  • Elementary OS*
  • Red Hat Enterprise Linux
  • CentOS
  • Oracle Linux
  • Mandrake / Mandriva
  • SUSE Linux Enterprise
  • Gentoo
  • Chrome OS
  • Chromium OS

Adaptado de Linux distribution (Wikipedia).
* Ubuntu foi instalado 2 ou 3 vezes e usado por pouco tempo, entre 2009 e 2015.
* Elementary OS foi testado apenas em Live USB, em Mar. 2016.
* Antergos foi instalado, mas não foi feito o relato da experiência.

Fugir da dependência de “decisões proprietárias” é uma das lições mais antigas que a evolução da informática tem oferecido, reiteradas vezes, — empresas fecham, são vendidas, projetos são desfigurados ou descontinuados.

Na memória estritamente pessoal, — cada um tem a sua, — poderia elencar a extinção do DR-DOS (Digital Research), do Ventura Publisher (Xerox), aplicativos que não conseguiram migrar do DOS para Windows (como o dBase, entre outros). Nem precisaria citar a guerra desproporcional contra o Netscape (entre outros). No mundo empresarial, nem sempre “vence o melhor”. Sói vencer o mais rapaz.

Já perdi e/ou tive de refazer muitas horas de trabalho, mesmo fazendo mais do que meros backups em “formato proprietário”, — backups em DIF (Data Interchange Format), por exemplo, de preferência em ASCII (hoje diria CSV, plain-text, UTF8, Unicode).

Os efeitos da “dependência”, portanto, vão muito além da mera “submissão financeira”, — taxas de servidão anual (até por “migração” forçada, sem que você precise de “nova versão”), — na medida em que afetem seu “capital” de trabalho acumulado em arquivos digitais sob “formato proprietário”, bem como seu “capital” de capacitações (aprendizado, treinamento).

Se, para uma empresa de grande porte, uma súbita “decisão proprietária” (externa a ela) já pode significar custos consideráveis, para um usuário doméstico pode ser quase um desastre, — em especial, se “informática” não for sua praia, mas apenas ferramenta, e se lhe coloque o dilema de parar todo o seu trabalho, para procurar alternativas (encontrará?), aprender, refazer rotinas de trabalho, — ou contratar uma consultoria, que não estava prevista no orçamento.

Falo como “usuário leigo”, claro, — talvez não seja tão traumático para um profissional de TI, até porque em geral acompanha os acontecimentos, percebe com antecedência e se prepara de véspera.

É claro que já não se trata de “formato proprietário”, — e sim, de “decisões proprietárias” (o que já representa uma enorme melhoria em relação aos “traumas” de 25 anos atrás), — mas isso não é motivo para deixar de ficar atento e prevenir.

Por isso, a dependência da Canonical já vinha incomodando, — em especial, à vista de reiteradas dissensões com as “comunidades”, divergências de rumos etc.

Um breve resumo foi dado por Swapnil Bhartiya, em “6 things Mark Shuttleworth should do as CEO of Canonical”:

Canonical e Shuttleworth têm uma longa história de membros perturbadores da comunidade de código aberto:
  • o Unity foi criado porque a Canonical não podia trabalhar com o Gnome;
  • Banshee foi expulso do Ubuntu porque a Canonical queria fazer um corte de vendas;
  • Houve uma disputa entre Canonical e Linux Mint sobre taxas de licença;
  • O fundador do Kubuntu foi expulso de seu próprio projeto;
  • Houve uma batalha desagradável dentro da comunidade Debian sobre o uso de systemd vs Upstart;
  • Mir foi anunciado com críticas pesadas das comunidades Wayland e Xorg.
Você pode ver que há uma lista muito longa de confrontos entre a Canonical e outras comunidades de código aberto.

No original:

Give respect to earn it: You can’t expect a community to include features that you need if you are not seen as a good citizen. Canonical and Shuttleworth have a long history of upsetting members of the open source community: Unity was created because Canonical couldn’t work with Gnome; Banshee was kicked out of Ubuntu because Canonical wanted to take a cut of sales; there was a dispute between Canonical and Linux Mint over licence fees; the founder of Kubuntu was kicked out of his own project; there was a nasty battle within the Debian community over the use of systemd vs Upstart; Mir was announced with heavy criticism from the Wayland and Xorg communities. You can see there is a very long list of confrontations between Canonical and other open source communities.

Naturalmente, meus receios são os de usuário apenas familiarizado com o básico, — e que não afetam experts capazes de montar e desmontar seu próprio Linux em maior ou menor grau.

Histórico


Caminho percorrido até deletar o Windows

Durante vários anos, congelei o velho Windows XP e investi no Linux, até conseguir realizar todo o trabalho no Kubuntu e no Linux Mint (não no Debian, infelizmente), e essas 2 ferramentas implicavam em certo grau de dependência de “decisões proprietárias” da Canonical.

Como essas, anunciadas agora, — ou as anteriores, agora abandonadas de súbito.

Funcionalidades já obtidas (pessoalmente), com diferentes sistemas Linux instalados

O surgimento do KDE Neon, — fora do controle direto da Canonical, — acena com alguma perspectiva de independência, como se viu na adoção do Calamares, em Janeiro de 2017. Permite sonhar que nem todas as “decisões proprietárias” da Canonical venham a ser passivamente repassadas ao usuário do KDE Neon.

Mas, para quem, após 10 anos, ainda não conseguiu domar o Debian, é auspicioso conseguir bons resultados com o Mageia 6 sta2 e com o openSUSE, — praticamente “de fábrica”, dado meu despreparo para alterar muita coisa, — sem interromper o trabalho (nem a diversão) para mergulhar em estudos aprofundados da estrutura do Linux.

Quadro comparativo das distribuições Linux instaladas (e mantidas) ao final de quase um ano

21 Dez. 2017 - Desde a publicação desse texto, em Maio, algumas distros foram descartadas, outras foram instaladas, — e foi acrescentada uma tosca “árvore genealógica” (acima), como um balanço do caminho percorrido desde 1º de Janeiro. — PCLinuxOS é a experiência mais recente, e parece prometer bastante.

WTF Canonical?


(anúncio de Ubuntu... e agora, de iTunes, SUSE, Fedora no Windows Store)

Não sei se alguém "fez campanha" contra a Canonical por causa disso. Uma afirmação genérica, desse tipo, respinga sobre inúmeras pessoas que apenas recearam possíveis consequências. Acho que tinham bons motivos. Primeiro, pelo histórico de outras parcerias, onde a M$ mostrou o quanto podia ser perigosa. Mas também, pelo histórico de "individualismo", guinadas, decisões polêmicas da Canonical. E de lá para cá, a Canonical só acrescentou motivos, para qualquer comunidade ficar com um pé atrás em relação a ela. No caso do MAC, SUSE e Fedora, nem sei se há algum histórico a recomendar certo distanciamento por parte da comunidade. E não sei se existe tal histórico, porque o futuro desses 3 não me afeta tão diretamente. Mas dependo do Ubuntu, por isso o histórico da Canonical já me preocupava um pouco. Agora, me convenci ainda mais, da necessidade de experimentar distros "não-ubuntu". De preferência, mais "comunitárias" e menos sujeitas a "decisões proprietárias" de alguma corporação. Pior, de alguma corporação que se mete com outra, de histórico pior ainda.

(rascunho anterior)

Durante muitos anos, li dizer que a Canonical teria impulsionado a expansão, difusão e aceitação do Linux dappertutto, — nem vou negar, credo quia absurdum, — e, até mesmo, que o Debian (esse “ingrato”) lhe deveria algo por isso.

Olhando apenas o “interesse” (consultas), ao longo dos anos, — e lembrando que, “lá no início” (do Distrowatch, 2002) mantinham-se no topo Mandrake (1º), Red Hat (2º), Gentoo (3º), Debian (4º), SuSE (6º), Slackware (7º), — o Debian (agora em 2º) tinha pouco a ganhar. Mas, por mérito de quem?

Com certeza, não dá para atribuir à Canonical as atuais posições do openSUSE (4º), Fedora (6º) + CentOS (9º), Mageia (12º), — muito menos as do Arch (10º) + Manjaro (5º) + Antergos (16º). — A própria “queda” do Slackware (17º), seria bem menor, caso todos os “derivados” Ubuntu fossem agrupados no 1º lugar, liberando posições no ranking.

Na verdade, deveríamos atribuir ao Ubuntu (3º) a posição do Mint (1º), — e eliminar do ranking dúzias de “sabores” e “derivados” do Ubuntu (Zorin 7º, Deepin 11º, Elementary 8º, Ubuntu MATE 14º, LXLE 18º, Lite 19º, Lubuntu 20º etc.).

É verdade que isso jogaria o Ubuntu, — somados “sabores” e “derivados”, — disparado, no topo do mundo, bem acima do Mint (1º). Aliás, o Mint desapareceria, somado ao Ubuntu.

Mas, feito esse expurgo, — e somados, igualmente, Manjaro + Arch + Antergos, por exemplo, — ficaria muito complicado pretender que o Debian devesse tanto ao Ubuntu.

Ali estariam, de um modo geral, os velhos “troncos”, — além do Arch, mais “novo” (e do Slackware, que subiria bastante), — e dificilmente se poderia pretender que apenas o Debian devesse ao paternalismo da Canonical sua persistência no topo, com os demais “troncos”.

— … • … —

Não-debians